Livro Tombo: o livro mais antigo de Curitiba
Também nesta página documentos de 1668 a 1694, originais com as primeiras medidas administrativas
para Curitiba e a transcrição dos documentos do Livro Tombo em ordem original e cronológica.
Imagine ter acesso à leitura de uma publicação com os documentos originais da fundação da cidade. O Tombo da Câmara da Villa de Curitiba está disponível aqui para consulta online (confira logo abaixo). O livro foi feito em 1721, por determinação do ouvidor Rafael Pires Pardinho, para reunir os primeiros manuscritos oficiais de Curitiba, a partir de 1668. Pardinho era ouvidor geral da capitania de São Paulo, funcionário do Reino, e chegou à vila em 1721 para dar as primeiras provisões, além de organizar os papéis oficiais, para não se perderem "e com eles a memória do seu município".
Por este livro é possível saber que cinco dias antes da criação da vila - que foi em 29 de março de 1693 - um grupo de moradores encaminhou ao capitão-mor da localidade, Matheus Leme, um documento solicitando com urgência a criação da Câmara, pelo...
"bem comun dese povo, e por ser já oje mui crescido por passarem de noventa homens, e quanto mais crese a gente se vão fazendo móres desaforos, e bem se vio esta festa andarmos todos com as armas na mão, e apeloirou-se dos outros mais e outros ensultos de roubo, como e notório e constante pelos casos tem susidido e daqui em diante será pior, o que tudo causa o estar este dito povo tão desamparado de governo e desiplina da justisa [sic]".
Portanto, o aniversário da cidade nada mais é do que a data em que a Câmara Municipal de Curitiba foi fundada e foram escolhidos seus três primeiros vereadores entre os "homens bons" da cidade (Garcia Rodrigues Velho, capitão José Pereira Quevedo e Antônio dos Reis Cavaleiro). Eram eles que iriam administrar o povoado dali por diante. A celebração à cidade nesta data só veio em 1906, por proposição do historiador e então vereador Romário Martins.
No Tombo também entraram outros documentos como o do levantamento do pelourinho alguns anos antes, em 1668 - que era uma coluna de pedra onde ficavam expostos os criminosos e que em Curitiba localizava-se onde hoje está o mercado das flores na Praça Generoso Marques. Constam ainda o termo de eleição da Câmara e da instalação da vila, assim como os termos de medição feitos no rocio (documentos que atestavam o tamanho das propriedades; o rocio era como chamavam as áreas mais distantes do povoado). Nenhuma folha uniforme, cada uma com tamanho e letra diferentes, sem ordem cronológica.
ORGANIZAÇÃO
A leitura de todos estes manuscritos não é tarefa fácil. Além da letra rebuscada, diversas variações na grafia podem confundir o leitor. Mas em 1906, um funcionário público chamado Francisco Negrão publicou o primeiro volume do "Boletim do Archivo Municipal de Curitiba, documentos para a história do Paraná" uma transcrição completa do que se registrou nas atas da Câmara, desde o Livro Tombo. Neste, especialmente, ele reorganizou em ordem cronológica os documentos juntados aleatoriamente e, mesmo a leitura desta transcrição, é de difícil entendimento, pois está na forma literal escrita originalmente.
Durante sua carreira como funcionário público, Negrão dedicou-se a transcrever todas as atas da CMC, que revelam o cotidiano e os costumes da sociedade que se formou por aqui. Ao todo, são 62 volumes com transcrições do período de 1668 a 1932.
PASSADO RESTAURADO
O Livro Tombo foi restaurado em 2008, em uma parceria da Fundação Cultural de Curitiba com a Fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro. O procedimento teve o objetivo de frear a degradação para deixar a história ser contada para as próximas gerações (confira nesta página o vídeo que explica como foi feito o restauro).
"Este Livro que athe agora servira de registro n'esta Camara, ficará d'aqui por diante servindo de Tombo para n'elle se tombar o Rocio d'esta Villa e as terras que este Conselho der e tem dado a alguns moradores, na mesmo Rocio, como fica provido n'esta correyção nos cap.os 30, 32 e 33 dos Provimentos: e dos termos, que n'este Livro fizerem das medições, e marcos que metterem nas d.as terras darão o treslado authentico aos moradores do Rocio, que o pedirem para titulo da sua terra, e citio, que se lhe der; e concervando-se no Conselho sempre este Tombo para a todo o tempo por elle se decidirem as duvidas que podem sobrevir entre os mesmos moradoros [sic]", Pardinho, 1721.